Processo decisório nas entidades associativas: Centrais de negócios, cooperativas, mantenedores de escolas, hospitais comunitários e entidades do terceiro setor são desafiadas a agilizar decisões sem perder os valores essenciais da cooperação.
O associativismo é a iniciativa de pessoas, entidades ou empresas que reúnem esforços e recursos com o objetivo de superar dificuldades e resolver problemas comuns que, isoladamente, seriam difíceis de superar.
Logo, são as necessidades em comum que levam os indivíduos ou organizações à cooperação, que vem acompanhada sempre de dois outros processos sociais: o conflito e a competição. O equilíbrio entre estas forças é vital para perenidade da associação.
Um dos valores mais importantes e mais complexos do associativismo é aceitar a interdependência e praticar a participação direta e efetiva dos associados no processo decisório.
Isso pressupõe ultrapassar a vontade individual de fazer, criar e contribuir para resolver seus problemas. Quanto maior a participação, mais democrática será a gestão e maior o comprometimento e a responsabilidade do grupo com as ações.
Participação no processo decisório
Nas organizações associativas, as lideranças precisam criar um ambiente de participação e um modelo de gestão horizontal. E neste caso, participar é fazer parte do poder.
É a possibilidade real de tomar decisões importantes. Porém, participar implica atuar, expor-se, gastar energia, pensar. Assim, exige compromisso, responsabilidade, trabalho, ação.
Não é suficiente levantar a mão para votar questões essenciais, beneficiar-se dos êxitos e compartilhar os problemas. Portanto, não existe participação como algo individual. Ela sempre se dá em relação a uma ação com os outros.
Na minha vivência como consultor especializado em associações que atuam em ambientes empresariais complexos, o desafio está em construir processos decisórios horizontais simultaneamente ágeis e participativos.
Logo, a vantagem competitiva das organizações associativas em se adaptar rapidamente para atender as necessidades do seu público alvo pode ser rapidamente neutralizada.
Isso se deve ao fato da falta de coordenação para agir em bloco, inteligência mercadológica e de capacidade analítica de cenários complexos, uma vez que os dirigentes eleitos estão familiarizados com a gestão de unidades de negócios muito mais simples do que as associações que foram encarregados a dirigir.
Em alguns casos, os membros dos conselhos e diretorias das mantedoras são compostos por voluntários com pouca vivência no setor da entidade.
A questão a ser enfrentada pelas organizações associativas é a competição em condições de igualdade com empresas mercantis com processos decisórios verticais.
Enquanto estas são ágeis, as decisões nas associações são lentas pois são dirigidas por colegiados eleitos e transitórios e não possuem acionistas majoritários.
Construção de modelos híbridos na hierarquia
A solução está na construção de modelos híbridos baseados na hierarquia do conhecimento e na profissionalização da gestão.
Eles são capazes de coordenar sistemas complexos ao utilizar simultaneamente as virtudes dos modelos horizontais (flexibilidade, liberdade, decisões democráticas, transparência e confiança) e da gestão vertical (organização, planejamento e foco em resultados) desenvolvendo assim a cultura do “ganha-ganha”, essencial na cooperação e na manutenção da relações comerciais e pessoais de forma sustentável no longo prazo.
Grande parte das associações e cooperativas utiliza a autogestão como modelo de gerencial.
Ele se caracteriza pela participação direta dos associados ou voluntários no processo decisório enquanto que a operação é compartilhada entre os próprios associados, voluntário e funcionários contratados.
No entanto, este modelo de gestão apresenta limitações na medida em que a entidade necessita crescer para ganhar escala e atuar de forma coordenada para agir em bloco.
O desafio a ser superado está em agilizar o processo decisório sem perder os valores essenciais da cooperação: participação, comprometimento e representatividade.
Participação, comprometimento e representatividade no associativismo
Na medida em que a associação ou cooperativa cresce, a participação direta apresenta algumas limitações.
Seja pelo número ou acomodação dos associados e voluntários ou pela área de abrangência, gerando o famoso “efeito carona”.
Assim, a prática mostra que grande parte dos associados demonstra pouco interesse pelos destinos da associação ou cooperativa por entender que a sua contribuição individual influencia pouco para o todo ou que não lhe proporcionaria benefícios particulares.
O comprometimento é o processo em que os associados se responsabilizam pelos resultados obtidos pela associação ou cooperativa, sendo fiel aos princípios tomados democraticamente.
Este é testado sempre que as decisões da maioria colidirem com os interesses individuais de uma parcela dos associados ou cooperativados.
Já a representatividade é gerada pela percepção dos associados de que todos os grupos de interesse da associação ou cooperativa estão representados no processo decisório.
Dessa forma, são tratados de forma justa e equânime, independente do seu porte, tamanho da conta bancária ou pela sua localização – interior ou capital.
A manutenção dos valores essenciais é medido pelo “sentimento de pertencimento” que os associados, familiares e funcionários têm em relação à associação ou cooperativa.
Esse “sentimento” é uma sensação individual e volátil, que é resultado da qualidade do RELACIONAMENTO entre os dirigentes, associados e os funcionários.
Portanto, investir na construção e manutenção de relacionamentos de alta qualidade é um desafio constante e ininterrupto dos dirigentes e funcionários da entidade.
DICA 1 – Como construir relacionamentos?
- Criar canais de comunicação ágeis e eficientes;
- Capacitar os dirigentes e funcionários da associação ou cooperativa para construir relacionamentos baseados nos valores essenciais da cooperação e na valorização do ser humano;
- Investir na formação e no desenvolvimento dos associados para o trabalho coletivo;
- Disponibilizar serviços que gerem resultados mensuráveis aos associados.
Portanto, para manter os valores essenciais da cooperação e agilizar o processo decisório, as grandes cooperativas agroindustriais e de crédito adotaram modelos de governança mais complexos e profissionalizados que se caracterizam em separar os interesses dos associados da gestão da entidade.
Os primeiros são representados por um conselho administrativo eleito e composto por associados, enquanto que a gestão é de responsabilidade de um superintendente ou diretor executivo profissional que faz a intermediação entre o conselho e o corpo de funcionários.
Geralmente, tem autonomia de decisão e de condução dos negócios, podendo ter o seu salário, em parte, proporcional aos resultados alcançados.
DICA 2 – Como agilizar o processo decisório nas entidades associativas?
- Implantar um modelo de governança “profissionalizado” na entidade:
- Regular claramente a forma dos gestores contratados: atribuições, grau de autonomia e a distribuição do poder entre os associados, o conselho administração e do gestor;
- Regular claramente a fórmula que o conselho utilizará para estabelecer metas, como o executivo prestará conta e os mecanismos de controle.
- Estruturar os canais de comunicação com o associado, zelando pela transparência dos atos da direção executiva;
- Adotar os princípios da gestão por projeto.
Contudo, embora a governança não seja uma exigência legal, ela é crítica para a eficácia das associações e cooperativas, pois precisam ser governadas sem o benefício da hierarquia ou da propriedade.
Dessa forma, a sobrevivência e a relevância das associações e das cooperativas no mundo dos negócios estão vinculadas diretamente a sua capacidade de adaptar as exigência do mercado e, principalmente, gerar valor para seus associados.
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