Repensando estratégias para engajar conselheiros e voluntários nas organizações social

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A superação da escassez de voluntários e conselheiros requer uma abordagem inovadora das organizações sociais, indo além da busca por abnegados pelas causas sociais, educacionais e humanitárias.

A qualidade e a atuação dos conselheiros é primordial para fortalecer os vínculos relacionais com a sociedade que será beneficiada com a atuação das entidades sociais. Além de estarem identificados com a causa da entidade, os conselheiros deverão representar diferentes setores da sociedade civil e empresarial.

Com esta diversidade de saberes e de representação, as entidades sociais estarão melhor preparadas para ganhar espaço e se adaptar às transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo.

Não basta contar com um grupo de pessoas abnegadas, apaixonadas pela causa e dispostas a trabalhar muito. É preciso “trabalhar melhor”, gerando impactos relevantes capazes de mudar, para melhor, a realidade social.  Para alcançar estes objetivos é preciso repensar as estratégias, os métodos e processos, e a sustentabilidade institucional no longo prazo. Um conjunto de indicadores de efeito, eficiência e efetividade auxiliarão os executivos e conselheiros a avaliar e corrigir as estratégias.

Unir as habilidade e competências dos conselheiros com as habilidades técnicas dos profissionais, exige uma postura colaborativa e responsável das partes.

 

Tipos e propósitos dos conselhos

Observados os dispositivos estatutários e as exigências legais, normalmente as organizações sociais contam com três tipos de conselhos com funções complementares:

Conselho deliberativo – é responsável por zelar pelo patrimônio, objeto social e cumprimento dos estatutos, e supervisionar a gestão da entidade. Essas funções são exercidas através da definição das diretrizes e do planejamento estratégico, da aprovação do orçamento e do monitoramento das metas. Essas métricas devem medir a qualidade do trabalho dos executivos.

Conselho fiscal – é responsável por analisar os atos administrativos, verificar se os deveres legais e estatutários estão sendo cumpridos e atestar a lisura da aplicação dos recursos da entidade.

Conselho consultivo – atua no aconselhamento dos líderes e gestores, e aporta saberes e expertises multisetoriais à instituição.

Como atrair os conselheiros

Os conselheiros são voluntários identificados com a causa institucional e dispostos a colocar seus talentos profissionais e seu prestígio pessoal para orientar, indicar, sugerir, recomendar e trocar ideias com os executivos profissionais, visando desenvolver novas estratégias para aumentar a base relacional, a excelência gerencial e a sustentabilidade da instituição no longo prazo.

Além da integridade pessoal e da reputação ilibada, os voluntários devem estar dispostos a servir e se comprometer com a causa e com a instituição e não a usar para aumentar o seu prestígio pessoal ou sua visibilidade social.

As instituições mais longevas possuem conselhos com elevado número de membros, o que dificulta o processo decisório e diminui a capacidade de ação e reação rápidas. Longas discussões, atreladas a opiniões pessoais e a pouca compreensão da natureza dos temas, dificultam e atrasam o processo decisório.

Neste tipo de ambiente, as entidades têm dificuldade de atrair novos conselheiros, especialmente jovens executivos. Muitos deles estão dispostos a dar um ou dois dias por mês para trabalhos voluntários em organizações do Terceiro Setor. Porém, este esforço precisa gerar resultados efetivos, incrementar o seu currículo profissional, ampliar o networking e sua inserção na comunidade. Executivos ou profissionais liberais não se sujeitam a participar de discussões prolixas, com baixa resolutividade.

Para atrair a atenção e gerar interesse nos potenciais conselheiros é preciso aperfeiçoar as estratégias de captação, do método de recrutamento, seleção e gerenciamento de voluntários. A dinâmica de atuação do conselho deve ser atualizada para dinamizar o processo decisório e valorizar os saberes dos conselheiros. Manter o foco em temas estratégicos e evitar o envolvimento demasiado nos aspectos gerenciais e operacionais da instituição é uma medida inteligente e necessária para otimizar a atuação dos conselheiros.

Como engajar conselheiros e voluntários

A escassez de voluntários já vem sendo sentida há muito tempo pelas organizações sociais e de serviços humanitários, especialmente as mais longevas. As pessoas não pararam de se preocupar com os problemas das suas comunidades. Então para onde foram os voluntários? Para entender estas questões as entidades sociais deverão recorrer ao poder das perguntas – e não apenas das respostas. A escassez de voluntários pode ser um sinal de que eles exigem e esperam que as organizações mudem a maneira de se relacionar com este público.

Anos atrás um dos fatores de atração de voluntários era a oportunidade de participar de círculos de relacionamento onde valores como integridade pessoal e a reputação ilibada fossem essenciais – mas que também proporcionasse mais prestígio e visibilidade social.

Com a crescente profissionalização das entidades, novos conflitos surgiram. Os voluntários começaram a ser vistos como “mão de obra” ou “provedores de recursos financeiros”. Quase só eram lembrados quando as entidades precisavam dos seus serviços ou de novos aportes financeiros. Os voluntários perderam o protagonismo e se sentiram “usados”.

Provavelmente entre as perguntas que devam ser respondidas estão:

  • Quais as responsabilidades da organização social para com os voluntários e conselheiros?
  • Estamos provendo informações sobre seu papel e mantendo-os atualizados sobre as ações e as realizações da instituição?
  • A instituição conhece os interesses e aspirações legítimos dos voluntários?
  • A política e o método de gerenciamento e relacionamento com os voluntários e conselheiros está atualizada?
  • Temos um canal de comunicação frequente para prestar contas além das reuniões formais para manter a integração e o alinhamento?
  • Mantemos o grupo mobilizado tanto nos momentos críticos quanto nos bons?
  • Reconhecemos publicamente as contribuições dos voluntários?
  • Respeitamos a autonomia e valorizamos as experiências anteriores dos voluntários?

Nos momentos de incerteza ou de crise, os voluntários e conselheiros são capazes de proporcionar à organização as condições necessárias para superar os desafios.

Os conselheiros e voluntários oferecem segurança pelo amor a causa, experiência em boa governança, conhecimentos para a construção de soluções inovadoras e perspectivas de novos caminhos, gerados a partir de suas redes de relacionamentos.

A postura colaborativa e respeitosa entre conselheiros e executivos e o reconhecimento da interdependência como fator crítico de sucessos das entidades sociais, certamente aumentará o engajamento e a capacidade de resposta às demandas sociais, educacionais e humanitárias.

Fontes:

  1. Perfil ideal de conselheiros em organizações do Terceiro Setor – Instituto Filantropia – https://www.institutofilantropia.org.br/informacao/perfil_ideal_de_conselheiros_em_organizacoes_do_terceiro_setor
  2. A formação do Conselho de uma Organização – Nota Técnica – IDIS – https://idis.org.br/wp-content/uploads/2014/05/NotaTecnica_Conselhos.pdf